Ernesto Nazareth |
“Quando o samba ainda nem tinha subido o morro, o tango brasileiro descia para o asfalto pelas mãos hábeis deste grande pianista. Compunha músicas eruditas que caíam na graça popular. Ao lado de Chiquinha Gonzaga e Antônio Calado, é considerado o precursor de um gênero bem brasileiro: o choro. Para Villa-Lobos, era a encarnação da nossa alma musical…” (Almanaque Brasil) Ernesto Júlio de Nazareth (Rio de Janeiro, 20 de março de 1863) – foi um pianista e compositor brasileiro é considerado um dos grandes nomes do “tango brasileiro” ou, simplesmente, choro. “Seu jogo fluido, desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma brasileira“, disse o compositor francês Darius Milhaud sobre Ernesto Nazareth, carioca que fixou o “tango brasileiro” e outros gêneros musicais do Rio de Janeiro de seu tempo. Aprendeu piano com a mãe, que tocava valsas, modinhas e principalmente polcas em saraus e reuniões. Depois da morte da mãe, em 1873, continuou estudando piano, e começou a compor. Sua primeira polca, “Você Bem Sabe”, composta aos 14 anos, foi editada. Estudou música com os professores Eduardo Madeira e Lucien Lambert. Intérprete constante de suas próprias composições apresentava-se como “pianista em salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais”. Influenciado também pelo maxixe, lundu, ritmos africanos e pelos chorões, Nazareth nunca aceitou totalmente essa influência, resistindo bastante em dar denominações populares à suas composições. Músico de formação erudita, o máximo que se permitiu durante muito tempo foi classificar suas músicas como “tangos brasileiros”, uma vez que o tango argentino e a polca eram as danças de salão da moda à época (década de 1880). Ernesto Nazareth significa um caso raro de ligação entre o erudito e o popular: não é um erudito, na acepção da palavra, nem é um compositor apenas popular. Ora se percebe em sua obra um toque chopiniano, especialmente nas valsas, ora a vibração de uma polca ou de um choro entranhados do espírito brasileiro. Fazia uma diferenciação entre o choro e o tango-brasileiro, este por ele considerado música pura. Para mostrar essa diferença, Nazareth compôs o choro “Apanhei-te Cavaquinho.” Foi uma das únicas composições que ele considerou como choro. O mesmo entendimento tinham Chiquinha Gonzaga, Antonio Calado, Alexandre Levy e outros. Em 14 de julho de 1886, aos 23 anos casou-se com Teodora Amália de Meireles, e a ela dedicou a valsa Dora, inédita até então. Logo foi dar aulas de piano para sustentar a família e trabalhou também como pianista-demonstrador em diversas casas, como a Vieira Machado e Cia., Mozart e Carlos Gomes. Ernesto Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situada na fronteira do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas, em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacob do Bandolim. O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo. E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence “Odeon”. Apresentou-se em diversas cidades do Brasil com êxito, mas no final da década de 20 já começava a dar sinais da surdez que se intensificou no fim de sua vida. Os abalos que sofreu com as mortes de sua filha Maria de Lourdes em 1918 e da esposa Teodora no ano seguinte contribuíram para a deterioração de seu estado menta. Em maio de 1930 compôs sua última música, Resignação. Ainda se apresentaria em Porto Alegre, partindo depois para Montevidéu, onde teve uma crise nervosa. De volta ao Rio, foi internado na Fundação Gaffrée & Guinle, dentro do Hospício D. Pedro II. Depois foi levado para a colônia Juliano Moreira. Em fevereiro de 1934, fugiu e foi encontrado, quatro dias depois, afogado em uma represa. Há uma lenda segundo a qual ele teria sido encontrado morto debaixo de uma cachoeira. A sua postura era impressionante. Estava sentado, com a água lhe correndo por cima, com as mãos estendidas, como se estivesse tocando algum choro novo, que nunca mais poderemos ouvir… (Juvenal Fernandes, in Ernesto Nazareth, Antologia, Ed. Arthur Napoleão Ltda. AN-2087/88). Dele, disse Villa-Lobos: “Suas tendências eram francamente para a composição romântica, pois Nazareth era um fervoroso entusiasta de Chopin.” Querendo compor à maneira do mestre polonês e não possuindo a capacidade necessária para uma perfeita assimilação técnica, fez, sem o querer, coisa bem diferente e que nada mais é do que o incontestável padrão rítmico da música social brasileira. De qualquer maneira, Nazareth é uma das mais notáveis figuras da nossa música. Entre os grandes admiradores da obra e da atuação como intérprete de Ernesto Nazareth, citam-se Arthur Rubinstein, o russo Miercio Orsowspk, Schelling (que levou suas composições, exibindo-as nos Estados Unidos e Europa), Henrique Oswald e Francisco Braga. Serviu de tema e de inspiração a Luciano Gallet, Darius Milhaud, Enani Braga, Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone e Radamés Gnatalli. Suas obras mais conhecidas são: “Apanhei-te, cavaquinho!…”, “Ameno Resedá” (polcas), “Confidências”, “Coração que sente”, “Expansiva”, “Turbilhão de beijos” (valsas), “Bambino”, “Brejeiro”, “Odeon” e “Duvidoso” (tangos brasileiros) de uma série deixada de 212 peças composições, sendo polcas, valsas e tangos. Entre elas os sucessos Escovado, de 1905, e Apanhei-te, Cavaquinho!, de 1914. Sobre Nazareth, disse Villa-Lobos: “É a verdadeira encarnação da alma musical brasileira; ele transmite, na sua índole admirável, as emoções vivas de um determinado povo, cujo caráter apresenta tipicamente na sua música”. |
Fotos |
A importância de Ernesto Nazareth
(jornal internético – www.joaodorio.com) |
Por Aloysio de Alencar Pinto: Com lucidez incomparável, sincretizou danças europeias com algumas formas coreográficas brasileiras, dando-lhes novas cores mediante a aclimatação e ambientação do material rítmico-melódico. Esse processo de tropicalização de formas estrangeiras que, inspirado em constâncias populares, foi sistematizado, via Nazareth, e, em seguida, adotado pelo povo. (…) Foi, sem dúvida, dentro de sua época, a mais importante contribuição realizada em prol da música brasileira. Por Mozart de Araújo: A posição de Ernesto Nazareth, na história da música brasileira, é da maior importância, porque foi ele o fixador, na pauta musical, de fórmulas melódicas, de esquemas harmônicos e de células rítmicas que se tornaram representativas da musicalidade nacional. (…) Para o piano, Nazareth canalizou toda aquela música que andava dispersa pelas esquinas. O formulário rítmico e melódico do choro e da seresta carioca, a gíria improvisatória do maxixe, tudo isso Ernesto Nazareth captou, refinou, filtrou, transfigurou e condensou na sua obra pianística Por Francisco Mignone: A influência de Ernesto Nazareth sobre compositores populares e eruditos foi e continua evidente. Até musicistas da envergadura de Villa-Lobos se louvaram da obra nazarethiana para soluções artísticas e estéticas. Por Luiz Heitor: Ernesto Nazareth completa a tríade (com Joaquim Antonio da Silva Calado e Chiquinha Gonzaga) de autores que mais significação tiveram nesse processo de fixação de um tipo nacional de música, para o qual os compositores “sérios” começam a pilhar cobiçosamente Por Heitor Villa-Lobos: É a verdadeira encarnação da alma musical brasileira; ele transmite, na sua índole admirável, espontaneamente, as emoções vivas de um determinado povo, cujo caráter apresenta tipicamente na sua música. Por Baptista Siqueira: Se a música de Ernesto Nazareth tem todas as características eruditas desde a forma ao conteúdo, se mantém os princípios estéticos universais de variedade na unidade, se nos modelos formais, quer de estrutura, quer de desenhos, segue o melhor de todos os clássicos, (…) então essa música só tem um destino: “viver enquanto houver inteligência sobre a Terra”. Por ele mesmo, Ernesto Nazareth: Duas coisas dão-me imenso prazer: uma pessoa a ouvir-me com reverência e um pianista “desconcertado” ao tentar transpor alguma dificuldade encontrada em minha música!… Por Mariza Lira: Não se pode dizer que Ernesto Nazareth, por ter escrito tangos, valsas e polcas fosse um compositor de música popular. Ele as compôs com tão bizarra técnica e fantástica execução, que as tornou inacessíveis aos menos conhecedores do teclado. Por ele mesmo, Ernesto Nazareth: Minhas músicas não foram feitas para serem dançadas; mas, sim, ouvidas!… Por Andrade Muricy: Nazareth nem sequer escrevia danças para serem dançadas. A sua síntese admirável da dança urbana carioca, do choro, da seresta, é de caráter eminentemente artístico e concertístico. Não gostava de tocar suas valsas, os seus tangos, as suas polcas “para dançar”. Isso o humilhava… Queria ser “ouvido”, e se não lhe davam atenção, parava. Por Mariza Lira: Sua popularidade, inigualável em extensão e profundidade, a maior de todos os tempos, veio sendo conquistada com a insistência da boniteza e perfeição de suas composições. Por Edgar de Alencar: (…) que força poética, que pureza rítmica a desse compositor que se popularizara apenas pelo ritmo quente e gostoso das suas melodias! E, sobretudo, que fidelidade, que nativismo o seu, refletindo nas suas partituras a vida do Rio de então. Por Vasco Mariz: A julgar pela popularidade da música pianística de Ernesto Nazareth, podemos considerá-lo como o segundo compositor que realmente conseguiu atingir o grande público brasileiro amante da música, depois de Carlos Gomes. É provável que o caráter semipopular de sua obra o tenha ajudado a penetrar em tantos lares (…); mas o que parece óbvio é que sua música obteve um lugar seguro e permanente em nossos corações. |
“(…)Ernesto Nazareth, espírito superior de aprimorada educação, música de primeira água, foi brilhante sem jaça, que bem poucos o igualariam no seu saber. As harmonias feitas por ele eram um hino do CEU(…)”[Cacá Machado, in: primeiro capítulo da tese de doutorado (USP)] |
Vídeos |
Nota |
Arthur Moreira Lima – Odeon |
André Pédico – Duvidoso |
André Pédico – Travesso |
Grupo Corpo |
Apanhei-te cavaquinho! |
muito animadora, até digo assim, por saber que a nossa história não é apenas composta de fatos trágicos, mas também, vivida e repassada através da multiplicidade de nossa cultura para que todos saibam de sua existência. Vivas a quem dissemina essas informações…
Obrigada e continuem esse trabalho maravilhoso!!!
Adriana, obrigada pelo carinho da sua visita e pela admiração ao blog. Continuaremos, sem dúvida, tentando fazer o nosso melhor.
Michèle