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Archive for setembro \19\-03:00 2013

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Morre lentamente

Martha Medeiros

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca. Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções,

justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.

Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

minis1 (25)

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NÓS QUE TEMOS A SEDE DAS VINHAS…

 

Marcos Rolim – 09/09/1996*

Nós queremos precipitar as tempestades e não nos comove a calmaria. O mundo que conhecemos já veio marcado pelos punhais que te expulsam, pela neblina que te atordoa, pelas cinzas que te encobrem.

Nós não procuramos asilos nem nos queixamos. Os soluços, os deixamos entre as taças amargas. A metafísica, a cobrimos com véus. Seguimos confiantes com os mistérios que temos, nós que temos a sede das vinhas.

Nós que temos a sede das vinhas somos radicais como as lobas. E enterramos as garras na cabeceira da terra e ouvimos atentas o chamado de nossos filhos à noite. Em homenagem a eles, enluaramos nossos pelos com as cantigas de nossos avós.

Nós que sabemos dos líquidos e das sopas, dos unguentos, das compressas, das poções, trazemos conosco o vozerio do tempo e construímos labirintos com açúcar. Dispensamos as reprimendas e os modelos eternos que nos imaginam estátuas ou cisnes. Estamos a oferecer nossos lábios e nossas unhas, nossos corações e nossos punhos, para dividir a chuva, as avenidas, as tribunas e as camas. Temos sonhos intensos e nossa alma é feita de pianos de cauda. Quando nos movemos, produzimos sonatas; quando partimos, trazemos o outono.

Nós conduzimos pássaros sob as pálpebras e nossos seios são peixes, luminosos. Trazemos os suspiros, a febre e a falta de ar, os suores, as fantasias, os silêncios e os espantos. Em cada leito construímos um navio que se lança ao mar com bandeiras próprias e que segue seu rumo como um cometa.

Nós vencemos todas as maldições e trituramos as afrontas. Já não aceitamos as âncoras em nossos porões, os interditos, os estreitos limites. Galopamos sobre as rezas e as mobílias, sobre as heranças e as panelas. Com as fogueiras que nos deram tricotamos estrelas; com as chibatas, traçamos a ventania.

Nós que temos a sede das vinhas emigramos do cotidiano para a história. Somos mulheres inteiras, de trigo, de cobre, de neve, de cetim.

“Nós somos assim, uma onda pela manhã, um rio ao meio dia, à tarde, uma avelã, à noite uma melodia.”

*(texto publicado no dia 08 de março deste mesmo ano no  Dia Internacional da Mulher)

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