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Admirável mundo antigo

Luiz Maia*

“Eu queria poder carregar um sorriso no coração nos momentos em que a vida me parecer triste.”

O que me leva a falar de saudade, esse tema tão batido? Para mim não há como esquecer uma época em que tudo parecia mágico. Com toda franqueza eu me sinto incapaz de ignorar sua importância para mim. Na infância cheguei a ter receio do escuro, do raio, do trovão. Mas cresci tentando superar o medo. Durante o dia eu parecia forte, determinado, porém à noite era extremamente frágil, pessimista. Meus sonhos eram desfeitos ao cair da noite. Fui uma criança medrosa, mas encontrei nos braços de minha mãe um abrigo acolhedor. Hoje em dia, distante da mocidade, passei a me sentir um estranho ao caminhar por ruas, praças e shoppings da cidade. Quanto mais ando, por antigos e novos endereços, lembrando o Recife de antigamente, a cada passo que eu dou mais a cidade me parece estranha. Essa minha angústia existencial aflorou de tal sorte quando eu comecei a perceber que as pessoas passam por mim sem sequer me notar. Algo difícil de ocorrer nos anos sessenta. Mesmo morando na mesma cidade, o fato é que as pessoas hoje passam por mim sem saber quem eu sou. Do mesmo jeito como eu não conheço ninguém.

Hoje eu sinto falta de tudo que é simples, do que me parece vital: dos raios de sol ao cair da tarde, rompendo as folhas das mangueiras do meu quintal; do arco-íris por sobre as roupas dependuradas, que pareciam porta-estandartes coloridos nos varais. Do cantar admirável dos pássaros nos galhos das laranjeiras, tornando mais bonito o amanhecer. O aroma de jasmim que adornava os jardins das residências nas Graças, Rosarinho e Derby, ainda está gravado em minha mente. Eu queria poder carregar um sorriso no coração nos momentos em que a vida me parecer triste. Por ora eu penso em descansar e busco sentar no banco da praça. Ao meu lado eu noto um casal de namorados. Eles discutem, brigam e viram a cara para o lado. Não sabem eles que estão a perder um precioso tempo…

Certamente estamos vivendo um mundo novo, bem diferente do meu. Pelo que pude notar as pessoas já não frequentam mais festas, hoje elas dizem que vão à balada. Se passam por algum constrangimento, afirmam que é uma saia justa. Se alguma coisa aconteceu que as fez passar vergonha, pagaram um tremendo mico. As pessoas antigamente, quando reconhecidas por seu trabalho, ganhavam um bom dinheiro e passavam a ser bem sucedidas. Hoje, são todos bombados. Namoro de hoje é ficar, conjunto musical virou banda, passear de mãos dadas deu vez aos encontros em motel. Sei não, mas essa geração precisa entender um pouco mais daquilo que é dar e receber carinho, conversar, dançar e jantar a luz de vela. Coisas simples que a cada dia vão ficando mais distante de nós. Coincidentemente, hoje fiquei sabendo que no bairro fechou a única floricultura que havia. Como presentear a pessoa amada, se ninguém sabe mais onde comprar flores? Espero que as pessoas não se esqueçam de reverenciar o amor, um sentimento que permanece eterno.

*Luiz Maia nasceu na cidade do Recife – PE é escritor e poeta. Autor dos livros “Veredas de uma vida” (suas memórias) , “Sem limites para amar” (crônicas), “Cânticos (textos reflexivos)”, “À flor da pele” e “Tamarineira – Natureza e Cidadania. Como diz o próprio escritor: “… foi depois do desejo inesgotável de ler e, posteriormente, escrever que vi morrer um Luiz velho para o mundo. E nascia, por sua vez, um novo Luiz, cheio de sonhos e esperanças (…) tornando-o melhor, mais humano e solidário…”

[www.luizmaia.blog.br]

Sê alegre

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